quarta-feira, julho 26, 2006

A hora certa de fazer intercâmbio

Que delícia dar uma fugidinha da casa dos pais e sair pelo mundo - livre, leve e solto -, não?! Ou abandonar de uma vez por todas aquele emprego chato, e deixar para trás o seu chefe insuportável, para uma experiência internacional. Mas, calma aí. A coisa não é bem assim. Fazer intercâmbio é o sonho de muitos estudantes e profissionais, sem dúvida. Mas não basta simplesmente ter a grana, decidir para onde ir e arrumar as malas. É preciso ter em mente objetivos claros e, principalmente, ter certeza de que você está preparado para o que vai encontrar e para deixar de lado, pelo menos por um tempo, sua vida aqui no Brasil - escola, faculdade, emprego, amigos, família etc.

Para calcular os prós e contras de cada momento e quanto tempo vale a pena ficar fora, é preciso considerar tanto fatores práticos como psicológicos. Em termos práticos, a hora ideal para fazer intercâmbio é no início da faculdade, segundo a gerente de relacionamento da STB (Student Travel Bureau), Andréa Pinotti. "Nesta fase, geralmente,os estudantes ainda não ingressaram totalmente na carreira profissional, talvez estejam só fazendo estágios. Então não serão prejudicados", acredita a gerente. Ao mesmo tempo, ainda estão jovens o suficiente para se adaptar com facilidade a mudanças e adquirirem bagagem cultural, aprenderem a conviver em equipe, a ter responsabilidade, e a saber lidar com dinheiro.

Além disso, há enormes variedades de curso no exterior para universitários. Pinotti explica que o estudante pode escolher entre cursos de curta duração (a partir de duas semanas), ou programas de trabalho nas férias de julho ou janeiro. Há ainda trabalhos que exigem uma pausa na faculdade por durarem mais tempo, como, por exemplo, o Au Pair (apenas para mulheres).
Pinotti, porém, não aconselha embarcar na experiência ao final do curso universitário. "No último ano é mais complicado sair do país, porque muitas faculdades exigem estágios obrigatórios e trabalhos de conclusão de curso. Além disso, o universitário pode nem conseguir o visto, porque é preciso provar vínculos com o Brasil e com a universidade", explica.
Mas como nem tudo na vida é prático, é preciso avaliar também as condições psicológicas e emocionais. Neste caso, nem sempre o primeiro ano de faculdade é o ideal para embarcar na experiência. "Esse momento vai depender não só do contexto sócio-econômico de cada sujeito, como das condições emocionais para se submeter a uma experiência que exige prioritariamente um desprendimento emocional e capacidade para lidar com o diferente e o inesperado", explica a psicóloga e coordenadora do Projeto Convivências para alunos de intercâmbio da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Andréa Barroso Sarmento.


Levando em conta esses fatores, a adolescência é o momento ideal para Sarmento. "Uma experiência internacional pode ajudar no proceso de formação de identidade do jovem e para adquirir uma maturidade mais elevada", explica. Foi o caso da estudante Nathalie Maschio Maccabelli, que viajou aos 16 anos à Nova Zelândia para cursar um semestre no Ensino Médio. "Acho que amadureci um pouco mais rápido do que meus colegas. Quando eu cheguei aqui achava que todo mundo tinha parado no tempo. Criei uma independência que, para os meus pais, foi muito difícil de lidar", conta a estudante.

A High School (Ensino Médio) é uma opção bastante procurada pelos adolescentes que, antes de ir, esbarram em outro dilema: o melhor é sair no primeiro, no segundo ou no terceiro ano do Ensino Médio? O segundo semestre do segundo ano é tido como a melhor opção já que, neste momento, o aluno já teve um ano e meio para se adaptar ao Ensino Médio, e ao mesmo tempo o vestibular não está tão próximo. O terceiro ano é o menos aconselhável, uma vez que esta é a hora em que todos os estudantes geralmente se encontram mergulhados nos estudos e na fissura de entrar numa universidade.

Quem pretende passar um ou dois semestres do Ensino Médio no exterior tem que se preparar. Afinal, não é tão simples se adaptar a uma casa, uma família e uma cultura completamente novas. Mas há outras opções além da High School, que podem ser bem interessantes, apesar de não tão profundas ou intensas. É o caso de cursos de línguas, com até duas semanas de duração, nos quais as aulas são divididas entre atividades culturais e esportivas, facilitando o aprendizado.
Segundo a psicóloga, "é difícil para um jovem ansioso por realizar seu desejo conseguir identificar qualquer despreparo. Seu desejo é sempre mais forte que qualquer obstáculo que se possa apresentar, principalmente em se tratando de hipóteses futuras que ele normalmente acredita poder superar". Para evitar que o estudante vá despreparado, a PUC-Rio criou o Projeto Convivências, no qual cria um ambiente de situações e debates entre intercambistas brasileiros e estrangeiros, para que esclareçam dúvidas e troquem experiências.
Quanto mais cedo o estudante começar a se preparar, mais fácil será o processo de adaptação. Desde a procura por uma agência de intercâmbios, o estudo do local, o tipo de curso ou trabalho que serão realizados, a regularização de todos os documentos e, até mesmo, a preparação das malas - quais tipos de roupa levar, se vai estar frio ou calor.
Mercado de trabalho - fim da linha?


E quem não teve condições de ter uma experiência internacional quando jovem, já era? Nada disso. Mas, neste caso, o momento ideal de fazê-lo é quando se está desempregado, segundo o consultor de Recursos Humanos do Grupo Prime Fernando Possari. Mas atenção: neste caso não é aconselhável fazer apenas um curso de curta duração. "Oportunidades curtas podem prejudicar o profissional, pois ao voltar poderá ser visto como aventureiro", afirma.
As férias também são um bom momento para fazer um curso de idioma fora. Segundo Andréa Pinotti, há cursos de idiomas voltados especialmente para executivos, com vocabulário de business e, ainda, cursos de extensão, como marketing e informática. Mas é preciso tomar cuidado para escolher instituições reconhecidas no Brasil e lembrar que temos cursos de muita qualidade aqui.


Em algumas áreas, um MBA ou mestrado fora, pode ser interessante. Mas há que se considerar a possibilidade de perder o networking - uma vez que a rede de relacionamento é responsável por 30% das recolocações no mercado. Além disso, não há garantias de emprego na volta. E aquela história sobre a super valorização do currículo? "Isso é ilusão. É claro que talvez este profissional tenha algum diferencial, porém não há certeza alguma de recolocação no mercado", explica o consultor. Ou seja, antes de viajar é preciso saber se o investimento e a experiência vão realmente valer a pena na hora de voltar para casa.

O importante, seja você um estudante ou um profissional, é não se iludir. Verifique todas as possibilidades, tenha em mente quais são os objetivos da sua viagem, planeje todos os passos e não arrisque apenas por "modinha". "É uma experiência que deve ser encarada com seriedade, desprendimento e humildade em aceitar o diferente", finaliza a psicóloga Andréa.

Matéria da
Universia Brasil publicada no dia 25/07/06

Um comentário:

Anônimo disse...

Geerleson, seu blog é muito legal pra quem pretende fazer work experience como eu, e tá nessa correria. Continue postando!
Abraço!